sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Sob o signo do talento



João Guilherme Ávila é um ator nato. Com apenas 8 anos de idade, esse paulistano não se intimidou ao enfrentar o desafio de viver o protagonista em um longa metragem e, ainda por cima, recriando um papel que já havia sido feito anteriormente no cinema e, por 3 vezes, na TV.
Por alguma razão, entretanto, parece que o personagem do garoto Zezé, o alter ego do escritor José Mauro de Vasconcelos, esperou mais de 4 décadas para encontrar quem pudesse ser-lhe fiel. João Guilherme é, na grande tela, o Zezé, com toda a sua inteligência, sabedoria, esperteza, encantamento e, também, sua coleção de alegrias e perdas. Do menino anárquico ao irmão carinhoso, do amigo amoroso ao filho que se acredita excluído, Zezé ressurge na irrepreensivelmente segura e emocionante interpretação de João Guilherme.
Uma nova estrela nasce no firmamento de celulóide do cinema.

Imagens extraídas do "Making Of" do "Meu Pé de Laranja Lima", capturadas por Juliano Bráz e editadas por Bruno Mahais.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A perfeição que reside nos detalhes: a arte de Bia Junqueira



Não houve quem entrasse num dos sets do "Meu Pé de Laranja Lima" e não ficasse profundamente impressionado sentindo-se transportado para dentro do pequeno grande mundo do garoto Zezé.
Realista na medida certa, lúdico quando assim é necessário, o trabalho da Diretora de Arte Bia Junqueira constitui-se de preciosos e quase inesperados detalhes, de uma paleta de cores que exprime sentimentos, nos fala de emoções e, por si só, embala-nos em suas histórias.
Tentar explica aquilo que só pode ser percebido através da imagem seria criar limites, através das palavras, para a inesgotável criatividade dessa artista e de sua sempre impecável equipe. Melhor que escrever a respeito tentando traduzir sua arte, fica mais e mais evidente que é preciso assistir ao filme. É necessário, sim, aceitar o convite de Bia Junqueira e deixar-se mergulhar no universo que ela criou para que os personagens encontrassem seus próprios espaços e vivessem suas vidas e nos envolvessem em seus dramas.
Nada escapa ao seu treinado olhar, seja o estilo e tamanho da bolsa que uma figurante carrega, o formato dos pães e bolos e sua disposição num balcão de padaria ou o tipo de bromélias e orquídeas que melhor se assentam nos galhos de uma árvore que será filmada. Tudo, para Bia, tem uma função, e essa função é envolver o espectador no ambiente da história e prepará-lo para as emoções e diálogos dos personagens. Seu perfeccionismo, sempre reconhecido por todos que participaram das filmagens, é notório. Bia respira e se alimenta de harmonia, de formas, cores, movimentos, texturas, de ritmos, de sutilezas e de grandes explosões. Quem lucra é sempre o filme e o seu espectador.
Nesta amostra do que foi o seu depoimento para o "Making Of" do "Meu Pé de Laranja Lima", Bia Junqueira conta sobre a profissão e sobre o seu processo de trabalho na criação de todos os elementos cenográficos do filme.

Imagens do "Making Of" do "Meu Pé de Laranja Lima" editadas por Bruno Mahais.


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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Os mestres, por eles mesmo



Sabem aqueles nomes todos que constituem os créditos de um filme? Aquele exército de nomes que passam numa velocidade que nem sempre nos permite ler? Pois são eles os profissionais que trabalham por detrás das câmeras viabilizando que aquele produto aconteça.
Todos profissionais tarimbados, especialistas em suas áreas, eles são a, digamos, espinha dorsal que sustenta o fazer cinematográfico.
O "Meu Pé de Laranja Lima" utilizou-se, para sua realização, de alguns dos mais reconhecidos nomes do mercado, na atualidade: Edu Mourão (Maquinista), Joaquim Torres (1º Assistente de Camera e também Foquista). Gustavo Campos (Técnico de Som) e Miquéias (Eletricista/Gaffer). Cada um deles chefia a sua equipe e todos, em uníssono, atendem à visão e às necessidades do diretor e do diretor de fotografia.
Nestes seus depoimentos, que fazem parte do "Making Of" do filme, eles falaram sobre suas profissões além de criarem o ambiente onde gostariam de gravar e, uma vez mais, dão uma mostra de seu talento.

Imagens captadas por Juliano Brás e editadas por Bruno Mahais para o "Making Of" do "Meu Pé de Laranja Lima".

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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Vestindo os nús


Maribel, como é carinhosamente chamada por todos, é uma chilena de nome pomposo: Maria Isabel Espinoza Soto. Sua função: vestir os atores com as roupas de seus personagens. Ou seja, Maribel cria o estilo, a personalidade, a procedência e o caráter de cada personagem através das roupas que usarão no decorrer do filme.
Combinar tecidos, padronagens, texturas e cores é um  jogo lúdico no qual ela é uma entusiasmada participante. E o resultado obtido é sempre correto, perfeitamente adequado ao papel e à situação que o ator irá dar vida.
No "Meu Pé de Laranja Lima", o conceito das roupas que vestem os personagens veio da figurinista Luciana Buarque ("Hoje é dia de Maria", "A pedra do reino", "Tieta", "O mandarim", "Uma mulher vestida de sol"). Coube, então, à sempre ativa Maribel, cuidar da execução dos mesmos, orientando um exército de costureiras e auxiliares, resolvendo problemas de última hora e adaptando-se às necessidades do roteiro.
Seu trabalho, junto com Bia Junqueira, diretora de arte, fará com que os espectadores do "Meu Pé de Laranja Lima" saiam dos cinemas com a viva memória dos personagens que viram na tela, perfeitos em sua composição, inclusive até nos menores detalhes de suas roupas.

Imagem: Vídeo capturado por Camila Botelho, editado por Juliano Bráz e que faz parte do "Making Of" do filme "Meu Pé de Laranja Lima"

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Julia DeVicta: uma Glória/Godóia



Determinação não é uma exclusividade de adultos experientes, que o diga Julia DeVicta, uma jovem atriz mineira de 13 anos.Seu depoimento para o "Making Of" do "Meu Pé de Laranja Lima" é um testemunho de força de vontade, superação e fé.
De acordo com os selecionadores e preparadores de elenco, Julia foi a única atriz jovem a comparecer aos testes desacompanhada da mãe. A mãe de Julia trabalha, tinha compromissos profissionais inadiáveis e não podia faltar ao seu serviço no dia da seleção das garotas para o papel de Glória, a irmã que protege Zezé. Isso, entretanto, não foi impedimento para que Julia tomasse duas conduções e se apresentasse.
Bom, o resultado desse esforço e desse desejo em atuar poderão ser vistos, em breve, nas telas. Enquanto isso, assistam ao vídeo acima e conheçam um pouco mais dessa Julia "Godóia" DeVicta.

Imagens extraídas do "Making Of" do "Meu Pé de Laranja Lima", com edição de Juliano Brás

domingo, 26 de dezembro de 2010

Pintando o personagem






Há sempre um profissional, num set de filmagem, que através do corte e da cor dos cabelos, do comprimento da barba ou da costeleta, da aparência jovial ou envelhecida da pele, das marcas deixadas pelo sol e pelo tempo, dos machucados, ferimentos, cicatrizes, transforma a aparência natural dos atores, dando-lhes as características necessárias dos personagens.
A profissão de cabeleireiro e maquiador ultrapassa a mera conotação de "dar um jeito" e assume proporções maiores, de grande criatividade, técnica e disponibilidade.A aparência física dos personagens vividos pelos atores do "Meu Pé de Laranja Lima" tem algo em comum: seu criador, um verdadeiro mago das escovas e dos pincéis: Auri Motta.
Com vasta experiência, adquirida no desempenho de sua função em inúmeros filmes, peças e espetáculos de dança, Auri é, antes de mais nada, a gentileza em pessoa. Educado, atencioso, sempre disponível, com uma simpatia que revela suas origens baianas, é alguém a quem atrizes e atores confiam pois bem sabem que ele irá dar forma externa àquilo que eles vivem internamente.

Eficientíssimo, junto ao seu assistente Roger Ferrari, valorizou belezas como Káthia Calil e Julia DeVicta, envelheceu, dando-lhes um aspecto desiludido aos atores Fernanda Vianna e Eduardo Dascar; ajudou, com retoques invisíveis, que José de Abreu se sentisse melhor em seu personagem; criou um rosto quase que diabólico para o esperto e oportunista Ariovaldo; fez pequenas e grandes cicatrizes e marcas de tombos e acidentes nos atores mirins. Além disso, trabalhou ajudando na composição física de todo os demais membros do elenco.
Portanto, quando assistirem ao filme, observem o trabalho desse artista que, de tão bom, pode parecer inexistente, natural ou até mesmo real. Tudo criado com sua paleta de pastas, pós, tintas e pincéis.


Imagens capturadas por Juliano Brás, e editadas por Bruno Mahais, para o "Making Of" do "Meu Pé de Laranja Lima"

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Recreio: uma cidade de braços abertos



Fazer um filme requer uma preparação, a elaboração de uma estratégia e um planejamento que se assemelham às das manobras de guerra.
Além de todas as escolhas e decisões, é preciso que tudo funcione a contento, senão é praticamente impossível realizar-se algo.
Filmar exteriores em cidades já deixou muito produtor e diretor de cabelos brancos. É difícil. Há que se pensar no trânsito, no tráfego de pedestres, nos sons naturais da cidade, etc. "Meu Pé de Laranja Lima" é um filme com muitos exteriores. Zezé é um garoto que vai ao colégio, pega carona na traseira dos carros, joga bola de gude e empina pipas, briga com os desafetos e busca trabalho nas ruas.
Recreio, no Sudeste de Minas Gerais, foi uma das muitas localidades escolhidas pelo diretor Marcos Bernstein, pela Diretora de Arte Bia Junqueira, pelo Diretor de Fotografia Gustavo Hadba e pelas produtoras para ser o cenário de muitas cenas do filme.
A empresa ENERGISA, uma das patrocinadoras do filme, e de tantos outros importantes eventos culturais dentro da sua área de atuação, preocupa-se que esses investimentos venham a gerar novas oportunidades de trabalho e desenvolvimento sócio-econômico nas localidades onde eles se realizam. E esta foi também a oportunidade vislumbrada  no caso do "Meu Pé de Laranja Lima", um filme que tem como cenário cidades e distritos da Zona da Mata Mineira.
A equipe do filme foi extremamente bem recebida em todas as localidades escolhidas para sediarem as filmagens e Recreio não foi exceção. A forma com que as solicitações da produção foram recebidas pela municipalidade, a maneira cordial e muito afetuosa com que a Prefeitura local disponibilizou os recursos humanos necessários que viabilizassem as filmagens é um exemplo de cooperação e de compreensão da importância da atividade artística para uma região.
A Prefeita em exercício, Sra. Daniela Cerqueira de Oliveira Cardozo, não mediu esforços para que toda a equipe fosse bem recepcionada e tivesse as melhores condições de trabalho possíveis. Sua presença no set de filmagem foi mais do que um sinal de boas-vindas, mas uma maneira de demonstrar que o governo municipal tem consciência da importância de sediar um filme que irá divulgar sua localidade pelo mundo.
Há algumas semanas atrás, na ocasião das filmagens, em seu comentário para a câmera do "Making Of", a Prefeita Daniela Cardozo fala da política cultural de Recreio e da consciência que seus cidadãos tem dos benefícios trazidos por sediarem uma produção do porte do "Meu Pé de Laranja Lima".

Imagens do "Making Of" do filme "Meu Pé de Laranja Lima", captadas por Juliano Braz.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Quando tudo parece caber num momento


Era 3:30 da madrugada quando o diretor Marcos Bernstein encerrou a ordem do dia de hoje, e com ela, esta fase da produção do "Meu Pé de Laranja Lima", com um firme: "Corta. Valeu!"
Naquele instante houve um momento de aliviado silêncio, de olhos marejados de alegria, da sensação do dever cumprido. Todo o cansaço, a correria, o calor, as pancadas de chuva, a lama, as dificuldades enfim dos 35 dias anteriores pareceram esvair-se. Sobraram sorrisos, abraços, agradecimentos, despedidas de uns e promessas de reencontro, de outros.
Fazer cinema é isso mesmo: um momento na vida de pessoas que chegam de diferentes pontos, com especialidades definidas e variados backgrounds, envolvidos num único interesse: possibilitar a realização de um filme. É certo que durante várias semanas (e, em alguns casos, meses) conviverão juntos, trocando saberes e experiências, ultrapassando diferenças e, na maioria das vezes, descobrindo-se bons parceiros de trabalho. É um exercício de paciência, de renovação do entusiasmo, de aprendizagem, compartilhamento e paixão, sim, pois sem uma verdadeira paixão por esse tipo de trabalho eminentemente coletivo, não há quem resista às pressões de um set de filmagem.
Agora, esta etapa de filmagens está terminada, e a sensação é da certeza de ter dado o melhor de si para a sua realização. O filme ainda segue um longo percurso, sendo lapidado e polido a cada novo momento do seu processo de produção, tudo para que em breve venha a brilhar nas telas dos cinemas.
Alta madrugada, as pessoas vão deixando para trás Recreio-MG, trocando telefones e e-mails. Carregam consigo, além de seus equipamentos de trabalho, a mensagem mais pura do "Meu Pé de Laranja Lima": não deixem que desapareça a criança que um dia fomos, pois a vida sem ternura carece de signficado. Em cada um de nós vive o garoto Zezé.
Hora de dizer tchau. Recebam então o abraço já saudoso de Minguinho, o seu pé de laranja lima. Que todos tenham um feliz Natal e um ano novo repleto das mais brilhantes luzes.
E lembre-se sempre, amigo Zezé: onde quer que a vida o leve, estarei lá, num outro quintal qualquer, esperando para conversarmos. Ainda que seja só por um momento.

Imagens capturadas para o "Making Of" do "Meu Pé de Laranja Lima" por Juliano Brás e editadas por Bruno Mahais.


Obs.: Apesar das filmagens terem sido concluidas, o nosso Blog continuará ainda, trazendo depoimentos, entrevistas e curiosidades destas semanas em que juntos convivemos e notícias sobre as próximas etapas (momentos!) da realização do filme. Continuem, portanto, acompanhando o Blog do Zézé, do Minguinho e de todos vocês!


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Aquela que amamos odiar


Ah, Jandira!... Como a maioria das grandes vilãs do cinema, aquelas que amamos odiar, ela é uma jovem linda, com um rostinho angelical e um coração transbordante de frustrações, rancores, impaciência, vingança...
Esse foi o grande desafio da atriz paulistana Káthia Calil ao criar o seu personagem: compreender os porques dela ser tão, digamos, má, especialmente com Zezé, o protagonista do "Meu Pé de Laranja Lima".
Zezé, menino sensível e sonhador, que vive intensamente a liberdade das crianças do interior criadas em contato direto com a natureza, longe das ameaças e aprisionamentos das grandes cidades, é o oposto de sua irmã mais velha, Jandira. Esta, mal saída da adolescência, tem como impedimento para que possa viver plenamente os anos da sua juventude o fato de precisar assumir o lugar da mãe dentro de casa, cuidando das tarefas domésticas e, sobretudo, dos 4 irmãos menores.
Jandira, como as moças da sua idade, é vaidosa, quer sair, namorar. A mudança do status da família devido ao fato do pai ter perdido seu emprego e a necessidade da mãe ter de assumir o sustento da família, trabalhando o dia todo, coloca Jandira, contra sua vontade, com uma carga de responsabilidades que ela não deseja naquele momento.
O escritor José Mauro de Vasconcelos dedicou o "Meu Pé de Laranja Lima" para sua irmã Glória e para o menorzinho, Luiz. Jandira não foi merecedora desse carinho. Vingança?
Jandira é sempre considerada a malvada, a irascível, um verdadeiro verdugo de Zezé. Mas só mesmo assistindo ao filme é que poderemos ter uma visão mais clara dessa personagem tão rica, que encontrou sua melhor descrição no roteiro de Marcos Bernstein e Melanie Dimantas, e a quem o talento e a beleza de Káthia Calil dão vida.
Em seu primeiro longa metragem, essa jovem paulistana mostra que veio para ficar e que tem as qualidades necessárias para estabelecer-se como uma das grandes atrizes da nova geração.

Vídeo integrante do "Making Of" do "Meu Pé de Laranja Lima".

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A educação do olhar


A câmera é o olho do futuro espectador presente no set de filmagem. É a tela onde o Diretor de Fotografia reescreve o roteiro através de movimentos, enquadramentos e inventivas composições e, também, onde ele desenha a maneira com que iremos olhar o filme. Essa arte de utilizar a tela do cinema como uma grande tela de pintura, em branco, e sobre ela agregar elementos que serão, afinal, formados de luzes e sombras, é a arte conhecida como cinematografia.
Gustavo Hadba, Diretor de Fotografia do "Meu Pé de Laranja Lima", faz parte de uma elite de humanos que desenvolveram o dom de olhar. Sim, porque olhar é diferente de ver, de enxergar. No ato de apreender visualmente uma imagem, no que nela há de mais expressivo e importante, está contido todo um sentido estético e cultural, algo que ultrapassa os limites do cognitivo, recriando e revelando aspectos que à primeira vista podem ter-nos passado desapercebidos.
"Meu Pé de Laranja Lima" tem uma fotografia segura, impressionante, mas constituída de delicadas sutilezas. O público irá confirmar isso nos cinemas, na amplidão sobrehumana da grande tela.
O vídeo acima, cujo depoimento é parte do "Making Of" do filme, mostra tomadas realizadas em diversos sets de filmagem no intuito de dar uma pequena mostra de como o trabalho de Gustavo Hadba utiliza-se de recursos os mais inesperados, das soluções mais criativas, para compor a história de Zezé e de seu pé de laranja lima.

Imagens capturadas por Juliano Braz durante a realização do "Making Of" do filme "Meu Pé de Laranja Lima"

domingo, 19 de dezembro de 2010

José de Abreu, a arquitetura dos detalhes



Foi em 1967, com o poema dramático transformado em peça "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto e musicado Chico Buarque de Hollanda, que este paulista de Santa Rita do Passa Quatro estreou no palco do TUCA e, desde então, trilhou uma carreira de sucessos vivendo tipos marcantes, fosse no teatro, cinema ou televisão.
José de Abreu é reconhecido pelos tipos que interpretou, especialmente na televisão, onde seu talento pode ser apreciado em mais de 40 novelas e especiais. No cinema, desde 1968, em "Anuska, Manequim e Mulher" até o ano passado, quando interpretou o Major Batista no "Menino da Porteira", foram 24 produções que puderam contar com sua presença e sua arte.
Filmando "Meu Pé de Laranja Lima", do clássico romance de José Mauro de Vasconcelos, e com a direção de Marcos Bernstein, José de Abreu criou, com toda uma gama de detalhes, a figura de Manuel Valadares, o "Portuga", homem de ciência, apaixonado pela botânica e entomologia e que virá a tornar-se um grande amigo, um substituto da figura paterna e um incentivador do menino Zezé.
Nste capítulo de seu depoimento, que faz parte do "Making Of" do filme, fala sobre o que o influenciou para a construção de seu personagem e a interação do mesmo com o protagonista Zezé.

Imagem: Estas imagens fazem parte integrante do "Making Of" do filme "Meu Pé de Laranja Lima"

sábado, 18 de dezembro de 2010

Criando fantasia



Quem prestar atenção aos detalhes irá se encantar com os objetos de cena utilizados pela Diretora de Arte, Bia Junqueira. Não há ator, membro da equipe técnica ou visitante dos sets de filmagem do "Meu Pé de Laranja Lima" que não se encante e emocione com a riqueza de pormenores que Bia trouxe para complementar as cenas.
Neste vídeo temos a oportunidade de conhecer Adriano Cunha, mais conhecido como Neneno, de Cataguases-MG. Nenego é artista plástico e um habilíssimo artesão que empresta o seu talento para o Grupo Gepeto, de teatro de bonecos (marionetes).
Bia Junqueira, tendo conhecido seu trabalho, propos-lhe criar algumas peças para serem utilizadas no filme, desde brinquedos para os irmãos Vasconcelos, até o carrinho de venda de CDs do cantor-ambulante, Ariovaldo. Desafios propostos, Nenego arregaçou as mangas e de seu grande atelier surgiram peças que nos remetem à nossa infância e nos fazem cúmplices e parceiros do desembaraçado Ariovaldo.
"Meu Pé de Laranja Lima" é um filme marcado  pela inventividade, como se toda a equipe estivesse se permitindo olhar o mundo com um olhar de surpresa, audácia, encatamento, de descoberta. Aquele mesmo olhar puro e investigativo que as crianças têm. O mesmo olhar do garoto Zezé.

Imagens capturadas por Camila Botelho para o "Making Of" do "Meu Pé de Laranja Lima"

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Mãe coragem



Há quem diga que ser mãe é padecer num paraíso. Não é o caso de Selma, mãe de Zezé e de mais outros 4 filhos.
Doente e tendo que trabalhar fora para garantir o sustento do lar desde que seu marido Paulo foi despedido do emprego, Selma sofre ao ver a decadência material e as dificuldades emocionais vividas pela sua família. Sabe, por exemplo, que Jandira, a filha mais velha e que a substitui nos afazeres domésticos e na tarefa de cuidar dos irmãos, ainda não tem  maturidade suficiente para tanto. Ela compreende que Jandira é jovem, saindo da adolescência, descobrindo-se mulher, vaidosa, carente do convívio com outros da sua idade e que, no entanto, é obrigada a administrar a casa e os irmãos mais jovens.
A mãe compreende, em seu resignado silêncio, que Paulo vive uma espiral descendente, não por culpa dele, pois é um homem sério e trabalhador, mas por conta das contingências do mercado e do destino. Sabe, também, que o precoce e sensível Zezé talvez seja quem mais sofra com a situação de penúria que a família enfrenta. Que ele não é o "diabo" que os outros descrevem, mas um menino ativo, esperto, carente, tentando sobreviver ao caos e buscando de todas as formas angariar a atenção dos outros.
Selma sofre com uma hérnia, um símbolo que carrega em seu próprio corpo do esforço empregado na lide diária e da somatização da sua luta pessoal para escapar da situação em que se encontra. Mulher cansada, dona de um olhar sofrido, essa mãe vive seu calvário silenciosamente.
Fernanda Vianna, atriz mineira que vive magistralmente a angústia contida dessa mãe, também é mais uma contribuição (as outras são Ines Peixoto e Eduardo Moreira) do Grupo Galpão, para o elenco do "Meu Pé de Laranja Lima".
Em seus comentários gravados para o "Making Of" do filme, Fernanda nos fala sobre a sua relação com o personagem Selma e os recursos por ela utilizados, como atriz, na busca de uma identificação com essa mulher, que vai à luta pelo profundo amor que tem pelos seus.

Imagem: Trecho do vídeo do "Making Of" do filme "Meu Pé de Laranja Lima"

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Construindo personagens



Imagine-se aprovado numa seleção para um determinado papel num filme. Você acaba de superar dezenas, ou até centenas, de candidatos todos lutando por aquela única vaga. Você fica muito feliz e quer saber tudo sobre o filme, sobre o roteiro e, principalmente, sobre seu personagem. Durante meses você viverá à disposição da produção do filme, passando dias inteiros no set, enfrentando horas de maquiagem e cabelo, de provas de figurino, de marcações de luz e câmera, tendo microfones sem-fio presos ao seu corpo, sofrendo com as luzes dos refletores, com a repetição de diversos planos e até de cenas inteiras, etc
Mas você não estará nunca só. Verdadeiros anjos da guarda, os profissionais dedicados à preparação dos atores para os papéis a serem representados, lá estarão, sempre atentos e ao seu lado, para ajudar no processo de "encontrar" o "seu" personagem.
Bruno Costa e Valter Lagoa, da Cabíria ArteComunicação, são essas criaturas pacientes, perseverantes, informadas, dispostas a fazerem com que os atores entendam o papel que irão viver nas telas, encontrem o "tom" exato para aquele personagem e consigam manter os diversos níveis de emoção mesmo filmando de maneira não sequencial.
A Passaro Films, produtora do "Meu Pé de Laranja Lima", considerou a presença dessa equipe desde a etapa de seleção até o final das filmagens. "Meu Pé de Laranja Lima" é um filme com, pelo menos, 4 atores muito jovens, com idades variando entre 5 e 13 anos e, alguns deles, atuando pela primeira vez profissionalmente. A responsabilidade de fazê-los entenderem a história e o seu papel na mesma, além de aprenderem a sentir as emoções que os seus personagens viverão, é o trabalho dessa dupla de preparadores.
Por um mes antes de começarem as filmagens, Bruno, Valter e o elenco ficaram isolados numa fazenda, na Zona da Mata, região onde todo o filme seria realizado. Trabalharam corpos e emoções. Transformaram indicações de roteiro em ações humanas. Construiram uma família. Colocaram gente vivendo os sentimentos de figuras descritas em papel.
O resultado de todo esse empenho poderá ser visto, em breve, quando as salas dos cinemas se escurecerem e a luz dos projetores exibirem Zezé, sua família e seus amigos rindo e chorando, felizes e entristecidos, desiludidos e esperançosos, sofrendo e amando numa dimensão que só mesmo o cinema pode dar.

Imagens capturadas por Camila Botelho e extraídas do "Making Of" de "Meu Pé de Laranja Lima"

domingo, 12 de dezembro de 2010

No coração da mata



Neste domingo, dia 12, toda a equipe esteve reunida para a filmagem de uma das cenas mais emocionantes do "Meu Pé de Laranja Lima". O local escolhido pelo diretor Marcos Bernstein, pela diretora de arte Bia Junqueira e pelo diretor de fotografia Gustavo Hadba foi o pedregoso leito de um rio que alimenta a centenária Usina Maurício, da antiga Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina, atual Energisa, situada  em Piacatuba, distrito de Leopoldina-MG.
O cenário não poderia ser mais impactante em seu conjunto de forças, onde os elementos da natureza parece terem se mesclado para criarem um intocado mundo perdido. Como se o tempo não existisse, a mata eleva-se em sua exuberância em camadas de verdes até sumir no horizonte montanhoso. O solo rochoso faz fendas e recortes que mais parecem os de uma paisagem lunar, na pureza da aridez de seus traçados: decalcados nas pedras, a escrita de milhares de anos de águas correntes, formando, ora corredeiras, ora piscinas naturais.
Um silêncio quase religioso se instaurou em todos nós que ali contemplávamos esse Éden primitivo, agressivo em sua ancestral imponência. Só o ruído das águas, em seu eterno caminhar para o oceano, podia ser percebido. Nem um outro som, nem mesmo o dos pássaros e cigarras, como se estivessem escondidos, quietos e atentos à nossa invasora presença, observando com estranheza nossos movimentos e nossa maquinaria.
Observando o local, bem conservado resquício da Zona da Mata, das florestas que recobriam toda essa região, compreendemos a sua escolha para essa importante cena do filme. Ali estavam reunidos os símbolos concretos das emoções vividas pelos personagens. A água corrente, fluindo e contornando obstáculos, aparentemente brilhante e refletindo a luz do sol, mas profunda e cheia de segredos, como são os nossos sentimentos. A realidade, nem sempre bem vinda, que o mundo físico nos impõe lá estava no áspero contorno de milhares de pedras de todos os formatos e tamanhos. Às vezes pedregulhos, como os pequenos incômodos do dia a dia, às vezes grandes e planas lascas, como a segurança que tanto almejamos. A luz filtrada pelas copas das centenárias árvores formavam manchas, como se com suas labaredas o sol também quisesse participar daquele espetáculo da Criação.
Nesse oásis encapsulado no tempo, o pequeno Zezé (João Guilherme) faz uma pungente revelação ao seu amigo Portuga (José de Abreu). Um dos pontos culminantes do "Meu Pé de Laranja Lima", a beleza selvagem do lugar e o drama de Zezé ficaram, então, registrados para sempre no celulóide e também nos olhos e almas dos que ali estavam criando esse momento mágico. 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Em nome do pai



Paulo Vasconcelos, personagem do romance autobiográfico de José Mauro de Vasconcelos, "Meu Pé de Laranja Lima", é uma referência ao seu próprio pai, homem simples, honesto e trabalhador que perde seu emprego e, junto, a auto-estima.
As figuras masculinas desse best-seller são muito fortes e pintadas em cores bastante marcantes. O pai não é uma exceção. Zezé tem pelo pai um misto de admiração e de medo, de compaixão e de raiva. Afinal, aos olhos daquela criança, todos os problemas que a família Vasconcelos passa a viver origina-se do fato do pai ter ficado pobre.
A mãe é obrigada a sustentar o lar trabalhando fora de casa. A irmã mais velha sente-se prejudicada diante os seus sonhos românticos e da natural vaidade da idade por ter que assumir as tarefas domésticas e cuidar dos irmãos menores. O pai, sentindo-se inferiorizado, magoado por não encontrar trabalho e não mais prover o lar, isola-se nos botecos da cidade, buscando uma paz que não encontra.
O relacionamento de Zezé com Paulo, seu pai, é, no mínimo, caótico. Não encontra naquele homem o exemplo que necessita, nem o apoio que busca. Por não receber nenhuma forma de atenção ou de reconhecimento de seus pais, extrapola em suas peraltices, sofrendo as consequentes reprimendas.
E assim vai-se desenrolando a história que comoveu centenas de milhares de leitores em todo o mundo e que, adaptada num roteiro escrito por Marcos Bernstein e Melanie Dimantas, está sendo filmado em diversas locações do estado de Minas Gerais.
Eduardo Dascar foi escolhido pela produção para viver o difícil, e nada simpático, papel do pai de Zezé. Ator nascido em Cataguases-MG, terra de Humberto Mauro, Eduardo parece ter sido predestinado a ser artista. Vivendo hoje no Rio de Janeiro e com uma intensa e importante participação no teatro e cinema nacionais, ele retorna à sua terra natal para, com toda a sua generosidade, deixar-se tomar pela essência do personagem e vivê-lo em todo o seu potencial.
Assista, acima, um trecho de seu depoimento ao "Making Of" do filme, falando sobre Paulo Vasconcelos e como ele estudou e compreendeu o personagem.

Imagens: Juliano Braz, para o "Making Of" do "Meu Pé de Laranja Lima"

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A visita



Filmando em uma das ruas centrais de Recreio, uma simpática cidade do interior de Minas Gerais, observados pelos olhares curiosos dos moradores que se aproximavam para tirarem fotos dos atores e dos técnicos, chamou-nos a atenção uma senhora pequenina, de aspecto frágil e grandes óculos a emoldurarem um olhar emocionado.
Quando as filmagens programadas para aquele dia terminaram, ela discretamente aproximou-se e disse:

   _ Sou Maria Helena Lott. Fui a primeira mãe do personagem Zezé no filme realizado em 1970.

Apanhados de surpresa, eis que, 40 anos após sua estréia nas telas, Stefânia (na nova versão o nome passa a ser Selma) ressurgia no set de filmagem do "Meu Pé de Laranja Lima" na figura da atriz que pela primeira vez a encarnou. Não houve quem na equipe que ali estava encerrando as atividades do dia, que não quisesse se aproximar, cumprimentar, tirar uma foto com a sorridente senhorinha.
Maria Helena Lott tem muito para contar e o faz com muito charme e de uma maneira dócil e cativante. Uma sobrinha que mora em Cataguases-MG telefonou-lhe (ela mora no Rio de Janeiro) contando sobre as filmagens do romance de José Mauro de Vasconcelos. Sem pensar duas vezes, Maria Helena enfrentou uma viagem de muitas horas para conhecer o elenco e a equipe técnica dessa nova versão do best-seller que está sendo dirigido por Marcos Bernstein em localidades da Zona da Mata mineira.
A tarde terminava e uma chuva grossa vinha tentar amenizar o verão, quando gravamos as cenas acima, que fazem parte do "Making Of" do filme. Emocionada estava a atriz por se encontrar novamente entre uma equipe de filmagem. Felizes estávamos nós, por estarmos próximos a alguém que há quatro décadas trabalhou numa produção baseada na mesma história.
Coisas assim parecem só acontecer nos filmes, não é mesmo?

Imagens gravadas por Juliano Braz, da equipe do Making Of do "Meu Pé de Laranja Lima".

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Dia de folga



Às terças-feiras descansamos.
Por que às terças? Não sei. A produção deve ter optado por esse dia por razões estratégicas. Talvez para que toda a equipe tivesse um dia útil para cuidar dos seus interesses, viajar e visitar familiares ou aproveitar para passear pela região, ir tomar banho de cachoeira, dar entrevistas para a estação de rádio local e atender jornalistas, visitar o Memorial Humberto Mauro, ou simplesmente relaxar caminhando pelo Horto Florestal de Cataguases. Somos, quase todos, vindos de outras regiões e como passamos o dia todo no set, que sempre fica há pelo menos 1 hora de onde estamos hospedados, esse dia é sempre bastante aguardado para que possamos repor nossas energias sem a obrigatoriedade dos horários.
Terça-feira era o dia dedicado, nas civilizações pagãs, ao deus Marte, o deus da guerra, dos combates. Era cultuado pelos romanos como o deus da ação, da iniciativa, da prontidão para os desafios, da honra a ser defendida. Não era, portanto, exatamente um símbolo de inatividade, de lazer e de um merecido dolce far niente...
Hoje, terça dia 7 de dezembro, marca, também, o fim da 3ª semana de filmagens e como o nosso cronograma prevê 5, já ultrapassamos a metade do que está previsto para que o "Meu Pé de Laranja Lima" finalmente tome forma. Depois é trabalho de pós-produção. E aí vai um outro longo tempo, dedicação e muito trabalho. 
Muito material impresso nos rolos de películas utilizadas, a história de Zezé ganha, a cada lata de filme que segue para o laboratório, contornos mais definidos e o enfoque se aprofunda cada vez mais. Falta, evidentemente, ainda muito para que o filme comece a sua carreira comercial, mas ele já existe. É uma gestação que começa a chegar ao fim. E, aproveitando essa comparação, como na maioria das vezes, existem algumas dificuldades nesse período.
A região escolhida para servir de cenário ao filme é visualmente muito rica. A Zona da Mata mineira, que leva esse nome devido à antiga existência da Mata Atlântica na região (hoje, praticamente devastada), tem um relevo bastante acidentado, constituído por montanhas e vales. Com a diminuição da produção aurífera nos séculos XVIII e XIX, seus exploradores vieram com suas famílias para a região e formaram grandes fazendas de café. A cultura cafeeira finalmente cedeu lugar à agropecuária e às indústrias que hoje se formaram na região.
A transição outono/inverno é, especialmente, conhecida como uma época de muitas chuvas, com transbordamento dos rios e o consequente alagamento das estradas. O calor é úmido e sufocante. O sol é inclemente e o uso de protetores solares e chapéus, uma necessidade. Temporais fazem com que as estradas de terra que dão acesso às vilas e pequenas localidades onde "Meu Pé de Laranja Lima" é filmado se transformem em pesadelos para os motoristas que servem à equipe.
Em algumas ocasiões, as ordens de filmagem precisam ser, de última hora, modificadas devido aos imprevistos do clima da estação; algumas cenas precisam ter suas datas de filmagem adiadas e substituídas por outras, num verdadeiro desafio de logística para a equipe de produção.
Às vezes leva-se horas preparando o set, estabelecendo as luzes, a camera, realizando ensaios finais, ajustando o som, maquiando e vestindo o elenco e a figuração para sermos surpreendidos por uma ventania que teima em derrubar os elementos de cena e equipamentos. Isso quando não evolui para um daqueles temporais que não chegam a amenizar o calor reinante, mas impedem que vans e carros se locomovam, atolados no barro.
Daí então a gente aproveita a terça-feira, o dia de descanso, para pensar o trabalho que ainda há por fazer. E acabamos descobrindo, então, o porque da escolha desse dia da semana para a nossa folga de set. Pois não é que todos, sem excessão, já nem mais se recordam da chuva de ontem que nos obrigou a paralisar algumas cenas que ainda faltavam serem  filmadas, ficarmos encharcados, andar escorregando e nos afundando no barro, etc, etc.?
As conversas giram unicmente em torno do filme que estamos fazendo: de como está ficando, do quanto ainda temos a fazer, de como será a reação das pessoas ao assistirem, dos momentos divertidos durante as filmagens, das emoções que sentimos ao vermos os atores vivendo os dramas dos personagens, de como é fascinante fazer cinema.
É isso aí. Essa gente que se encontra, se irmana e vive o mesmo sonho de ver realizado um filme são verdadeiros guerreiros. Corajosos, destemidos, determinados, cheios de iniciativas, batalhadores, que se recuperam muito rapidamente dos ferimentos dos campos de batalhas e que estão sempre ativos, prontos para novos embates. Até mesmo nos seus dias de folga.
Salve Marte!

Ilustração: Foto de Camila Botelho

domingo, 5 de dezembro de 2010

José de Abreu, um brasileiro



Nome que evoca tradicionais famílias do interior paulista, José Pereira de Abreu Júnior iria ficar nacionalmente conhecido como José de Abreu. Ou Zé de Abreu, como seus fãs carinhosamente o chamam.
Seu tipo físico, uma cadência no falar deixando audíveis todas as sílabas e seu passado de professor e ator de teatro em Pelotas e Porto Alegre, faz com que muitos creiam gaúcho este paulista de Santa Maria do Passa Quatro. O homem José de Abreu é mais do que isso: ele é um brasileiro, orgulhoso de seu país e da militância que teve para que vivêssemos a liberdade que hoje desfrutamos.
Grande conversador, sua companhia é daquelas que nos fazem querer prolongar o bate-papo. Inteligente, culto e articulado, tanto defende com veemência e conhecimento uma causa de ordem política e social, como pode passar horas respondendo, paciente, interessado e atenciosamente, aos seus inúmeros seguidores no Twitter, por exemplo.
José de Abreu chegou a Cataguases há 2 semanas para começar a filmar sua participação no "Meu Pé de Laranja Lima", onde dá vida ao personagem Manuel Valadares, o "Portuga". Ator experiente, com mais de 24 filmes e 50 novelas e séries especiais em seu currículo, sua presença no set de filmagem provoca uma merecida reverência de todos os que o veem atuar.
Manuel Valadares (José de Abreu) é um português que em determinado momento da história praticamente substitui a figura paterna junto ao carente Zezé. Homem de tradições, sensível, com suas raízes fincadas em Portugal, esse imigrante é um homem culto e bem sucedido, que se entrega à pesquisa botânica no fantástico jardim de sua casa. Solitário, mas não recluso, o "Portuga", como os seus amigos o chamam, encontra em Zezé o filho que não tem, o pupilo curioso e a criança carente de um afeto genuíno.
Para Zezé (João Guilherme), uma criança vivendo momentos difíceis de sua infância, o encontro com esse homem que, naquele momento é tudo o que o seu pai não é e não pode ser, provoca uma reação de extrema importância para o o enredo do filme.
A fama de José de Abreu o precede e isso fica constatado ao vê-lo interagindo com seus inúmeros fãs em cidades e vilas, com gente humilde que se encanta com a oportunidade de tê-lo ao lado, e com os repórteres que o assediam. A todos o ator e o homem tem uma palavra de carinho, de agradecimento, de atenção. No set de filmagens é um profissional discreto, cumpridor de suas obrigações, colaborador e extremamente generoso com seus colegas de elenco. Nem é necessário dizer que todos os envolvidos na realização do filme o têm no mais elevado conceito.
Nos próximos dias estará filmando intensivamente na região da Zona da Mata mineira, e estaremos exibindo trechos do Making Of com algumas declarações suas sobre o filme e seu método de trabalho.


Trabalhos no cinema


Trabalhos na televisão


Foto desta postagem: Camila Botelho

De chuva, sol e sonhos


Quem está sentado no escuro do cinema, curtindo o ar-condicionado perfeito, comendo sua pipoca e deixando-se emocionar pelas imagens e sons que parecem saltar de uma enorme e brilhante tela, muitas vezes nem sequer imaginam os percalços que foram vencidos para que aquele momento acontecesse.
São semanas de filmagem, precedidas de meses de preparação e seguidas de outros muitos meses de edição, sonorização, pós-produção enfim, para que, durante 90 minutos, uma verdadeira mágica aconteça e toda uma história seja contada de forma visual e auditiva. Emocionar, fazer rir, levar a uma reflexão, seduzir, impactar, estes são algumas das características essenciais do cinema.
Mas nem sempre é fácil conseguir esse efeito.
Além de uma trama interessante e um roteiro muito bem escrito, de um elenco adequado e muito bem preparado, de profissionais competentes vindos de diversas áreas para fornecerem todos os aspectos práticos e técnicos necessários, há sempre que se contar com uma dose extra de bom humor para enfrentar-se situações mais ou menos inesperadas.
Com o "Meu Pé de Laranja Lima" também é assim.
Não é tão simples, quanto possa parecer quando assistido na grande tela, filmar-se em 4 cidades diferentes, em pelo menos 25 locações, sob um calor de 40°C e enfrentando dias de chuvas de verão. Exige muito planejamento e uma estratégia bastante eficaz transportar quase 100 pessoas, entre atores e técnicos, equipamentos pesados e extremamente delicados, por estradas ora poeirentas, ora alagadas. Criar, no meio do nada, condições para que as pessoas envolvidas tenham algum conforto, possam se alimentar, concentrarem-se em seus papéis ou funções, terem, enfim, condições de executarem seus trabalhos, é uma tarefa hercúlea e de suma importância. E essa, só para que todos saibam, é a função básica de Platô (do francês plateau, que significa, aplainar, tornar plano, estável, viabilizar que o terreno/locação possa ser usado nas filmagens). O Platô é aquela pessoa dinâmica, destemida, curiosa, observadora, organizada, incansável, pacientíssima, determinada, que sabe absolutamente tudo sobre o filme e que prepara antecipadamente todas as locações. Em um resumo muito simplificado, ele é o coordenador do set de filmagens, aquele que possibilita que o trabalho dos demais aconteça.
Semana passada tivemos muitos dias de intensas chuvas aqui na região da Zona da Mata de Minas Gerais. Isso, para um filme que não fala de monções, alagamentos ou enchentes pode transformar-se num sério obstáculo. "Time is money" e esse ditado popular é uma indiscutível verdade quando falamos de fazer cinema. Cada minuto, trabalhando ou parado, custa dinheiro e consome uma parcela do orçamento total da produção. Além disso, há que se pensar nos inconvenientes naturais causados por esse tipo de impedimento.
A equipe do "Meu Pé de Laranja Lima" também viveu seus momentos de dificuldades devido às chuvas que provocaram enchentes às margens dos rios e o consequente alagamento das estradas de terra que servem a região das filmagens. Perigo de atolamento, longos desvios por estradas vicinais em busca de alternativas de acesso, equipamentos e atores sendo transportados por trem, sol inclemente daqueles que surgem no verão após as chuvas, moscas e mosquitos teimando em cruzar na frente da câmera de filmagem, foram alguns dos problemas enfrentados por todos. Grandes desafios para quem é Platô.
Mas o que mais fascina, nessa nobre arte de fazer um filme, é o espírito que domina a todos. É a determinação, a força de vontade, o desejo e o prazer compartilhado por tantas pessoas no intuito de realizarem juntas, e apesar de todo e qualquer imprevisto, algo belo e bom. Do pessoal do catering, servindo refeições e lanches a toda hora, nas mais improváveis locações, passando pela figurinista e suas costureiras sempre prontas, com uma tonelada de roupas e acessórios, a ajustarem e vestirem os atores e figurantes, não importa onde se filme, até os jovens e menos experientes atores mirins, que se divertem vivendo essa nova aventura, há um elo comum que liga a todos.
"Meu Pé de Laranja Lima" é um grande filme baseado numa grande história. Não se deixem enganar pela aparente simplicidade da trama criada por José Mauro de Vasconcelos no final dos anos 60 e magistralmente  adaptada por Marcos Bernstein e Melanie Dimantas quase 50 anos depois. Ela fala de algo muito maior que as aparentes aventuras e problemas enfrentados por um garoto e sua família: ela fala de amor, de coragem, de superação. Fala de perdas e ganhos, de abandonos sofridos e do inevitável aprendizado do desapego. Nos faz recordar que a beleza e a alegria podem ser encontradas e vividas em pequenos gestos e palavras e que fantasia e realidade muitas vezes se fundem para que possamos ultrapassar dificuldades.
Olhando o batalhão de técnicos e atores no set de filmagem, ilhados numa estrada barrenta e sob um sol abrasador, todos alheios às dificuldades reais que a Natureza naquele momento impunha, era impossível não perceber o que move todas aquelas pessoas: amor. Amor por um sonho. Amor pela arte. Amor que se converte em fé. Todos eles acreditam que o que fazem irá iluminar, um dia, as telas e os corações de todos aqueles que se refugiam nas refrigeradas salas de cinema para sonharem o sonho de Zezé.

Imagem: vídeo realizado por Juliano Braz , parte integrante  do Making Of do "Meu Pé de Laranja Lima"

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Traduzindo letras em imagens



"Porque o roteiro é o sonho de um filme" 

Jean-Claude Carrière


Quem leu o romance autobiográfico de José Mauro de Vasconcelos, escrito em 1967 e publicado um ano depois, com certeza emocionou-se com a história de Zezé. Difícil conter as lágrimas em determinados momentos da história de sua infância. 
Não que Zé Mauro, o Zezé do livro, fosse um santo, vítima e mártir de um destino absolutamente cruel. Ao contrário! Zezé é um garoto levado, traquinas, respondão, teimoso e também criativo, sonhador, sensível e carente. Zezé é o prenúncio do escritor famoso, do homem que escreveria mais de 20 livros e seria traduzido em quase todas as línguas do planeta. 
Zé Mauro, superada a sua própria e marcante fase de transição da infância, iria tornar-se um grande aventureiro, um viajante, um sagaz observador apaixonado pela gente simples da nossa terra. Contou sua história em 4 romances, sendo o primeiro, sobre sua infância em Bangu-RJ, o mundialmente aclamado "O Meu Pé de Laranja Lima". A este, em épocas distintas, seguiram-se "Vamos Aquecer o Sol", "O Doidão" e, finalmente, "Confissões de Frei Abóbora", sobre seus anos de maturidade.
Marcos Bernstein já era um consagrado roteirista quando decidiu, junto a Melanie Dimantas, a recontar, desta vez visualmente, os marcantes anos de vida do menino Zezé, a criança inventiva e catalizadora dos dramas que a cercam. Começava então o "sonhar o filme", nas palavras de Jean-Claude Carrièrre.
Seu currículo, como roteirista abrange "Central do Brasil", Terra Estrangeira", "O Xangô de Baker Street", "Oriundi" (dirigido por Ricardo Bravo, que atua como Dr. Adauto Faulhaber nesta versão do "Meu Pé de Laranja Lima"), "Pierre Verger - Mensageiro entre dois mundos", "Visão do Paraíso - Paixão de Tom Jobim pela mata", "Inesquecível", "Zuzu Angel" e "Chico Xavier". Com sua parceira no roteiro do "Meu Pé de Laranja Lima", Melanie Dimantas, também escreveu (e estreou na direção) "Do Outro Lado da Rua", que também é uma produção da Passaro Films.
Melanie Dimantas, co-autora do roteiro que traduz o best-seller de José Mauro de Vasconcelos para o cinema, é também autora de outros tais como "Carlota Joaquina", Olhos Azuis", "O Outro Lado da Rua", "Copacabana", "Duas vezes com Helena", "Não quero falar sobre isto agor", "Avassaladoras", "Gatão de meia-idade", "Mulheres do Brasil", Irma Vap - o retorno", "Porralokinhas".
Os filmes que gostamos, aqueles que ficam em nossa memória, são os cujas personagens nos cativam, impressionam, nos fazem amá-las ou, até mesmo, odiá-las. Grande heróis ou heroínas inspiram e nos fazem apaixonar por eles; grandes vilões nos provocam e fazem com que queiramos entrar na tela para desafiá-los!
Outro elemento importante é a "missão" do herói, isto é, o fio condutor da história, o "destino" que provoca os acontecimentos que irão gerar conflitos, desafios e obstáculos que o personagem principal terá de enfrentar para conseguir o seu intento, seja ele material (casar com a mocinha, descobrir o tesouro, etc) ou imaterial (conseguir a liberdade, crescer, etc). Para tanto é necessário um "empurrão", algo que subitamente aconteça na vida do personagem e que o jogue dentro da aventura que estamos a assistir. E, é claro, precisamos de um clímax, um momento máximo de tensão na história, uma situação que irá definir os destinos de todos os envolvidos na história e que depende exclusivamente do herói.
E, muito importante, isso tudo contado em aproximadamente 90 minutos!
Enquanto um livro é pensado de forma literária, escolhendo palavras e descrevendo extensamente ações, personalidades, situações, pensamentos, um roteiro é escrito pensando em imagens, diálogos e sons.
Assim também Marcos Bernstein e Melanie Dimantas, a quatro mãos, reescreveram, pensando em atuações, tipos físicos, movimentos de câmera, luzes e sombras, texturas e sons, música e silêncios a história do esperto moleque Zezé que, da noite para o dia, tem que enfrentar uma vida de privações, compreender os sentimentos vividos pelos adultos, buscar refúgio na fantasia e descobrir que a realidade nem sempre é tal qual a imaginamos.
Roteiro impecável, "Meu Pé de Laranja Lima" atualiza para a grande tela o universo vivido e narrado por Zé Mauro de Vasconcelos, esse sensível escritor que, até morrer aos 93 anos de idade, foi também artista plástico e ator de cinema e TV. Homem culto, experiente, versátil e emotivo que era, com certeza iria apaixonar-se, como todos nós, pelo tratamento dado à sua história.


Imagem: Foto por Juliano Braz